Luthier 

   

O som que sobrevive ao tempo

 

A madeira talhada torna-se obra de arte nas mãos de um mestre, apesar das dificuldades. A serragem no chão, ferramentas de marcenaria, um galpão de madeira nos fundos de uma casa de esquina, longe do centro da cidade, sobre a mesa de uma cerra, instrumentos de um artesão. A luz do sol invade a sala, por entre as frestas das madeiras do galpão, com o avançar da tarde o sol vai perdendo sua força e lentamente o ambiente vai perdendo a luminosidade com o crepúsculo.

Mas a luz ainda revela obras raras, não produzidas em série, mas manufaturadas com carinho e cuidados muitos especiais, por mãos marcadas pelo tempo, tempo este que não é visto como barreira, mas como qualidade e aperfeiçoamento da técnica. O sorriso e a alegria são passadas ao trabalho que lhe rendeu excelentes obras de arte, algumas destas obras não estão à venda, mas que foram talhadas com uma história, precisão e uma pitada do destino.

“A luthieria é uma manifestação artística que engloba a construção e restauração, de um modo artesanal, de instrumentos de corda com caixa de ressonância, tal como a violino, viola, violoncelo, contrabaixo e violão.

Segundo Antonio Houaiss, o termo chegou à lingua portuguesa por meio da palavra francesa luthier (fabricante de instrumentos de corda).

A melhor referência que se pode dar de “liutaio” é Antonio Giacomo Stradivari (Cremona, 1648 - Cremona, 18 de Dezembro de 1737), ou Stradivarius, como era conhecido. Foi um célebre luthier italiano. Ainda muito jovem foi discípulo de Niccolò Amati, com quem aprendeu e desenvolveu a arte inconfundível de fazer instrumentos. Muitas das técnicas utilizadas por ele ainda não foram completamente desvendadas.

Nicolò Amati (Cremona, 1596 - 12 de abril de 1684) foi um luthier da família italiana dos Amati, que se tornou conhecida pela alta qualidade dos intrumentos musicais que fabricava. Ele levou a técnica da familia à perfeição em torno de 1645, sendo o mais procurado fabricante de sua geração. Nicolò teve um filho, Girolamo (1649–1740), que também obteve reconhecimento por sua habilidade no ofício, sendo o último da linhagem Amati de grandes luthiers.” (Fonte: https://pt.wikipedia.org/).

A profissão não morreu, persevera até hoje em dia, mesmo com as dificuldades de encontrar madeira, da industrialização e robotização dos processos de produção, ela está firme e viva nas mãos de Erineu Franscisco Frozza, 60 anos, natural de Encantado Rio Grande do Sul, “seu Frozza”, como é popularmente conhecido, Luthier, trabalhou numa marcenaria onde surgiu a oportunidade de aprender a profissão. Um cliente tinha um violão quebrado na lateral até a parte inferior, querendo consertá-lo levou à marcenaria onde seu Frozza trabalhava: “deixe aqui o violão se eu conseguir consertar, nunca fiz isto antes, tu me paga o valor do conserto, se eu não conseguir, então, tu pode levar embora” disse o marceneiro.

Espantado com o resultado disse: “eu arrumei o violão a ponto do dono não reconhecê-lo”. Então pensou: “se posso arrumar esta parte, que é difícil por ter curvas, e tudo o mais, porque não posso fazer um violão?” Foi a partir deste momento que ele começou na profissão, conta o Luthier, que também é artesão de carteirinha desde 1990.

Um violão normalmente leva de 15 a 20 dias para ficar pronto, como o processo é artesanal, os moldes para um mesmo instrumento devem ser os mesmos, cada parte é selecionada e colada uma após outra, a cola leva de 18 a 20 horas para secar.

Começando com o contorno do violão, a parte lateral do instrumento, são escolhidas duas laminas de madeira com lascas paralelas e entre estas, uma lamina de madeira com lascas transversais, para que, com o tempo, o violão não rache, somente no dia seguinte esta primeira metade do violão sai da prensa, já com a cola seca, então, o mesmo molde é utilizado para fazer o outro lado que formarão o corpo do violão, que lembra o formato do número oito. São acrescentados o braço, geralmente com o tipo de madeira Mogno, a este os trastes, segmentos no braço do violão feitos de pedaços de metal branco. A parte da frente do violão é feita com um compensado de marfim imperial (Figueira do Norte) onde é posto o cavalete e o rastilho, parte que prendem as cordas na parte inferior do instrumento. À parte de trás do corpo do violão pequenas ripas de madeira transversais são postas internamente, o que mantém o formato do corpo do violão. Tarrachas são compradas em lojas especializadas e postas na “mão” do violão, estas servem para afinar o instrumento. Só então é feito o buraco na caixa de ressonância, para obter total simetria, o Luthier lixa o instrumento, enverniza e põe as cordas, que quando dedilhadas notas e acordes, produzirão o som que conhecemos deste belíssimo instrumento.

Mas o seu primeiro violão levou seis meses para ficar pronto, instrumento que seu Frozza mostra com muito orgulho. Todo em Mogno com a tampa da frente de Araucária. “Aprendeu pelo que padeceu”, até que depois de cortar muita madeira errada conseguiu ótimos resultados. Erineu é autodidata na profissão além de consertar instrumentos confessa que não é fácil fazê-lo, pelo fato de haver pouca madeira para este tipo de trabalho, quando cortada ela não pode ficar torta, tem que ter seu formato em linhas retas. Ele consegue matéria prima nas madeireiras da cidade e as laminas por encomenda de outros estados.  

Os clientes vão ao ateliê e escolhem, mas ele também produz instrumentos personalizados, conforme o gosto do cliente. O primeiro nome EFIM (Erineu Frozza Instrumentos Musicais) foi substituído por: Viola & Violões Frozza (que ainda não possui registro de patente). O Luthier tem uma viola “custom”, customizada, única, viola com as formas e design criados por seu Frozza, que pretende patentiá-la.

Ele revela o segredo na escolha da madeira, comenta que tem produzido os violões com Imbuia (é uma frondosa árvore da família da Lauraceae, que ocorre tipicamente nas florestas umbrosas mistas da região dos Campos Gerais do Paraná), o braço de Mogno (ou mogno-brasileiro é uma árvore nativa da Amazônia, mais comum no sul do Pará), a tampa do instrumento de Marfim Imperial (ou Figueira do Norte) e a escala de Guajuvira (é uma árvore encontrada nos estados brasileiros de Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Também é conhecida por Guajura, Guaiabi, Pau Darco, Apé Branco, Guaiuvira, Guajubira entre outros nomes). Os violões variam de R$180,00 à R$380,00. Violas de R$320,00 à R$600,00.

Além do talento em produzir instrumentos, seu Frozza mostra habilidades no instrumento e canto. Integrante do grupo de violeiros Chapéu de Palha, já gravou um CD, de produção independente. O grupo é composto pelos integrantes: Edson Marcos Frozza (filho de seu Frozza), Jackson, João da Silva (Dandão), Aloízio Mazzoneto, Edvino, Antonio Cardoso e Sergio Monilari.

 

Daniel Espiña, dezembro de 2009

 Ponto Norte te mostra o processo de construção de um violão, confere o vídeo aqui!

Confira também o CD do Grupo Chapéu de Palha na íntegra, clique e ouça

                                        

Galeria de Fotos: Luthier

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